E foi com um “mar
de fiéis” que a Imperatriz está no topo da nossa lista de Melhor Samba Enredo
da Década 2000/2010. Um ano que não teve samba enredo que o superasse: em poder
do melhor samba daquele, a Imperatriz entrou na avenida com muita força, muita
garra e com muita vontade de levantar a taça de campeã do carnaval carioca,
fato que não se consumou, conquistou apenas o oitavo lugar, lugar tão
desmerecido para um samba enredo excelente. Mostrou-se grandiosa do início ao
fim, enfrentou problemas com o abre-alas, muitos criticaram a plástica das
alegorias que o carnavalesco Max Lopes, que retornava a Imperatriz, pensou e
desenvolveu no enredo, mas ninguém, eu disse ninguém, criticou ou não gostou do
samba enredo, uma obra-prima da música que entrou para a História do Carnaval
Carioca.
“A
imperatriz é um mar de fiéis
No altar do
samba, em oração
É o Brasil
de todos os deuses!
De paz, amor
e união...”
O refrão principal transbordava energia: a oração
começa. O compromisso de falar das diversas religiões cultuadas no Brasil
juntamente com o amor ao pavilhão da escola demonstrou logo no início a
perfeição que se propaga ao longo do samba. O canto da comunidade era de
emocionar, todos cantavam e vibravam num coral de música sacra envolvente. Jeferson
Lima, Flavinho, Gil Branco, Me Leva e Guga merecem todos os aplausos e vivas: o
samba é realmente emocionante, lembro-me da primeira vez que o ouvi e fiquei
pasmo, meditando nesta linda poesia.
“Terra
abençoada!
Morada
divinal
Brilha a
coroa sagrada
Reina Tupã,
no carnaval...”
E a oração continua, agora contando a História do
Brasil através das religiões. A melodia não perde a sua linearidade e começa o
show de empolgação. O samba na Sapucaí ganhou uma força e brilhou na voz da comunidade;
uma melodia forte, acompanhada de sutileza nas terminações dos versos; uma
poesia pra não colocar defeitos, pois se trata da letra mais completa que eu já
pude acompanhar nessa década.
“Viu nascer
a devoção em cada amanhecer
Viu brilhar
a imensidão de cada olhar
Num país da
cor da miscigenação
De tanto
Deus, tanta religião
Pro povo,
feliz, cultuar”
A oração se que se configurava até o momento e se
transforma em peregrinação: a melodia se prepara muito bem e de maneira
eficiente para adentrar no refrão do meio. Logo, os versos rápidos, juntam-se a
melodia e a oração ganha o gingado do samba. E como mestre Marcone explorou
esta parte do samba, suas paradinhas e bossas contemplavam o verdadeiro
espetáculo, a bateria nota 10 estremecia a Sapucaí, e todos não paravam de
cantar.
“O índio
dançou, em adoração
O branco
rezou na cruz do cristão
O negro
louvou os seus orixás
A luz de
Deus é a chama da paz”
E continua a peregrinação: a segunda estrofe do
samba nos dá a impressão que foi feita para ser cantada em procissão, é linda e
grandiosa. A história vai sendo contada, misturada a religião até explodir nos
versos Oh, deus pai! Iluminai o novo dia/ Guiai ao divino destino/ Seus
peregrinos em harmonia, e não perde a linha. É fascinante e vibrante. O homem
pede em oração o seu desejo de viver em harmonia e com esperança. A imperatriz
levava para a avenida os seus peregrinos fiéis e contagiava aos espectadores da
Sapucaí, convocando-os a entoar o canto de fé.
“E sob as
bênçãos do céu
E o véu do
luar
Navegaram
imigrantes
De tão
distante, pra semear
Traços de
tradições, laços das religiões”
A peregrinação dos fiéis foliões da Imperatriz
consagra-se: o samba entra em seu encerramento de forma esplendorosa. A explosão
do canto dos componentes nesta parte remetia a perfeição e o andamento linear
da melodia. Incomparavelmente, aquele canto, o coral da Imperatriz
Leopoldinense, não foi superado por nenhuma outra agremiação, pois o samba era
muito fácil, caiu muito bem na “boca do povo”, levantou a Sapucaí, e contemplou
a sua oração, o seu samba enredo.
“Oh, deus
pai! Iluminai o novo dia
Guiai ao
divino destino
Seus
peregrinos em harmonia
A fé enche a
vida de esperança
Na infinita
aliança
Traz
confiança ao caminhar
E a gente
romeira, valente e festeira
Segue a
acreditar...”
E com este samba completo e perfeito, que os
componentes da verde e branco de Ramos cantar em procissão, a Imperatriz
Leopoldinense é a primeira colocada, ou seja, possui o Melhor Samba da Década.
Samba que ganhou o Estandarte de Ouro de 2010 do Jornal “O Globo”, aqui no SQI
foi também o grande campeão. Parabéns aos compositores, parabéns as Imperatriz
Leopoldinense.
Fontes: http://liesa.globo.com/
http://carnaval.uol.com.br/ http://letras.terra.com.br http://www.imperatrizleopoldinense.com.br/
http://extra.globo.com