Fascinante! Esta
é a primeira palavra que vem a minha cabeça em relação ao samba enredo de 2006
da Unidos do Viradouro. Um carnaval espetacular, completo e por que não,
ousado, brilhante, inovador. Essas foram algumas das características que a
escola apresentou neste ano. Todo seu desfile foi marcado de surpresas: da
comissão de frente a sua última alegoria, a Viradouro mostrou que era capaz sim
de brigar pelo título. Dona do melhor samba enredo daquele ano, não só
impressionou com tamanha grandeza, como também emocionou o público com um
enredo tão fascinante contando a história do Brasil a partir de sua
arquitetura.
“De vermelho
e branco, amor, vou sambar
Seja onde
for, terra, céu e mar
De braços abertos, que emoção
A Viradouro
mora no meu coração”
Quanto amor ao pavilhão em seu refrão principal. Waldeir
Melodia, Dadinho, Evaldo, Tamiro e Peralta, compositores desse samba primoroso,
enalteceram muito bem a escola e o enredo logo no refrão. Tão genial quanto
forte: este refrão tem uma força muito vibrante e envolvente. Para abrir o
samba de qualquer escola de samba, nada melhor do que um refrão que exalte o
amor a escola e seu enredo e, principalmente, que envolva os componentes para
que não se canse de cantar. Uma poesia maravilhosa que contou a História do Brasil
desde seu “descobrimento” até a modernidade; explorou a miscigenação das raças
e suas contribuições para a arquitetura do Brasil; os índios e sua relação com
a natureza; o homem branco e a cultura barroca; o negro e sua triste morada, a
senzala, enfim, a Viradouro “tocou” nesses aspectos com muito louvor e sutileza,
explorando os aspectos do enredo em seu samba enredo.
“Brasil!
Terra de encantos mil!
Em que a
miscigenação
Alterando os
conceitos incentiva a criação”
“Vindos de
além-mar, não poderiam imaginar
Quanta
beleza, a natureza
P'ros
nativos era um lar
Nas obras de
pedra-sabão
Barroco, fé
e devoção
Nas
senzalas, eu vi brotar
A nova raça
brasileira”
A letra traduzia muito bem o enredo, o samba é
muito completo. Uma letra bem construída, harmoniosa, sem erros que
comprometessem o andamento harmônico da escola em desfile. A primeira estrofe
cumpriu o papel de mostrar a formação da cultura arquitetônica que se conformou
no Brasil a partir do choque cultural acontecido entre as raças. Sua melodia
não cometeu erros ao entrar no segundo refrão, o acompanhamento da melodia não
perdeu o compasso musical de ligação dos mesmos. Há
de se reconhecer que este samba tem uma estrutura bem construída, não há falhas
na melodia.
“Com a moda
de Paris
A burguesia
faz seu carnaval
Resiste,
reluz o samba
E o artista
arquiteta o visual”
O refrão do meio é o momento de transição. A incorporação
de estilos arquitetônicos estrangeiros no Brasil. A arquitetura se transforma e
o samba lembra isso muito bem, de forma lúdica e didática. O urbanismo cresce em
conjunto com o aumento da população: prédios, edifícios, casas, favelas. É com
sutileza e primazia que o samba perpassa por esses aspectos, alertando a
necessidade da humanidade mudar seu comportamento perante a natureza. O brilhantismo
poético usado nessa parte do samba é singular. A melodia e a interpretação de
Dominguinhos do Estácio transmitem esse alerta até explodir no “Favela! Oh! Favela! O teu passado me faz
lembrar/ Dos tempos em que a noite estrelada/ Salpicava a morada. Tão bonito,
quanto envolvente.
“Chega de
ver tanto sonho desabar
A humanidade
pode mudar!
Favela! Oh!
Favela!
O teu
passado me faz lembrar
Dos tempos
em que a noite estrelada
Salpicava a
morada”
Depois de falar da conformação da arquitetura
brasileira, a Viradouro homenageou um dos mais conhecidos arquitetos do Brasil:
Oscar Niemeyer. Lembrou as principais criações desse artista como Brasília e o
Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro. A letra e a melodia consagram-se.
O samba e seus desenhos melódicos fizeram o samba crescer na avenida. Sem nem
um pecado, a melodia e a letra da Unidos do Viradouro em 2006 formou um
grandioso samba que contou a História da arquitetura no Brasil. Um desfile
rico, luxuoso, didático; mexeu com os sentidos dos foliões e componentes da
escola. Fez o público cantar e vibrar com a bateria de mestre Ciça e suas
paradinhas. Brilhou, encantou, e conquistou
o terceiro lugar, que foi contestado por toda a diretoria e integrantes da
escola.
“Obrigado,
meu Senhor, por ter iluminado
A mente
desse homem pelo mundo consagrado
Que fez
cidade sem igual
Museu como
nave espacial
Arquitetando
folias
Na apoteose,
sou o astro principal”
E com este belíssimo samba enredo, a Unidos do
Viradouro é a terceira colocada na nossa lista de Melhor Samba da Década.
Fontes: http://liesa.globo.com/ http://theurbanearth.wordpress.com http://letras.terra.com.br http://www.gresuviradouro.com.br.
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