quinta-feira, 2 de junho de 2011

De vermelho e branco amor... vou sambar


Fascinante! Esta é a primeira palavra que vem a minha cabeça em relação ao samba enredo de 2006 da Unidos do Viradouro. Um carnaval espetacular, completo e por que não, ousado, brilhante, inovador. Essas foram algumas das características que a escola apresentou neste ano. Todo seu desfile foi marcado de surpresas: da comissão de frente a sua última alegoria, a Viradouro mostrou que era capaz sim de brigar pelo título. Dona do melhor samba enredo daquele ano, não só impressionou com tamanha grandeza, como também emocionou o público com um enredo tão fascinante contando a história do Brasil a partir de sua arquitetura.

De vermelho e branco, amor, vou sambar
Seja onde for, terra, céu e mar
De braços abertos, que emoção
A Viradouro mora no meu coração

Quanto amor ao pavilhão em seu refrão principal. Waldeir Melodia, Dadinho, Evaldo, Tamiro e Peralta, compositores desse samba primoroso, enalteceram muito bem a escola e o enredo logo no refrão. Tão genial quanto forte: este refrão tem uma força muito vibrante e envolvente. Para abrir o samba de qualquer escola de samba, nada melhor do que um refrão que exalte o amor a escola e seu enredo e, principalmente, que envolva os componentes para que não se canse de cantar. Uma poesia maravilhosa que contou a História do Brasil desde seu “descobrimento” até a modernidade; explorou a miscigenação das raças e suas contribuições para a arquitetura do Brasil; os índios e sua relação com a natureza; o homem branco e a cultura barroca; o negro e sua triste morada, a senzala, enfim, a Viradouro “tocou” nesses aspectos com muito louvor e sutileza, explorando os aspectos do enredo em seu samba enredo.

Brasil! Terra de encantos mil!
Em que a miscigenação
Alterando os conceitos incentiva a criação

 


Vindos de além-mar, não poderiam imaginar
Quanta beleza, a natureza
P'ros nativos era um lar
Nas obras de pedra-sabão
Barroco, fé e devoção
Nas senzalas, eu vi brotar
A nova raça brasileira



A letra traduzia muito bem o enredo, o samba é muito completo. Uma letra bem construída, harmoniosa, sem erros que comprometessem o andamento harmônico da escola em desfile. A primeira estrofe cumpriu o papel de mostrar a formação da cultura arquitetônica que se conformou no Brasil a partir do choque cultural acontecido entre as raças. Sua melodia não cometeu erros ao entrar no segundo refrão, o acompanhamento da melodia não perdeu o compasso musical de ligação dos mesmos. Há de se reconhecer que este samba tem uma estrutura bem construída, não há falhas na melodia.

Com a moda de Paris
A burguesia faz seu carnaval
Resiste, reluz o samba
E o artista arquiteta o visual


O refrão do meio é o momento de transição. A incorporação de estilos arquitetônicos estrangeiros no Brasil. A arquitetura se transforma e o samba lembra isso muito bem, de forma lúdica e didática. O urbanismo cresce em conjunto com o aumento da população: prédios, edifícios, casas, favelas. É com sutileza e primazia que o samba perpassa por esses aspectos, alertando a necessidade da humanidade mudar seu comportamento perante a natureza. O brilhantismo poético usado nessa parte do samba é singular. A melodia e a interpretação de Dominguinhos do Estácio transmitem esse alerta até explodir no “Favela! Oh! Favela! O teu passado me faz lembrar/ Dos tempos em que a noite estrelada/ Salpicava a morada. Tão bonito, quanto envolvente.

Chega de ver tanto sonho desabar
A humanidade pode mudar!
Favela! Oh! Favela! 

 
O teu passado me faz lembrar
Dos tempos em que a noite estrelada
Salpicava a morada


Depois de falar da conformação da arquitetura brasileira, a Viradouro homenageou um dos mais conhecidos arquitetos do Brasil: Oscar Niemeyer. Lembrou as principais criações desse artista como Brasília e o Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro. A letra e a melodia consagram-se. O samba e seus desenhos melódicos fizeram o samba crescer na avenida. Sem nem um pecado, a melodia e a letra da Unidos do Viradouro em 2006 formou um grandioso samba que contou a História da arquitetura no Brasil. Um desfile rico, luxuoso, didático; mexeu com os sentidos dos foliões e componentes da escola. Fez o público cantar e vibrar com a bateria de mestre Ciça e suas paradinhas.  Brilhou, encantou, e conquistou o terceiro lugar, que foi contestado por toda a diretoria e integrantes da escola.

Obrigado, meu Senhor, por ter iluminado
A mente desse homem pelo mundo consagrado
Que fez cidade sem igual
Museu como nave espacial

Arquitetando folias
Na apoteose, sou o astro principal








E com este belíssimo samba enredo, a Unidos do Viradouro é a terceira colocada na nossa lista de Melhor Samba da Década.



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