quarta-feira, 1 de junho de 2011

Eu vou embarcar... na Estação Primeira


Com o enredo “Mangueira redescobre a Estrada Real... E deste eldorado faz seu carnaval” a Estação Primeira de Mangueira vinha mais uma vez com garra para levar o título de 2004. A escola que em 2002 foi a grande campeã e no ano seguinte vice-campeã, queria mostrar que tinha vontade de levar o campeonato com muita humildade, porém com muito luxo nas tradicionais cores de seu pavilhão, o verde e o rosa. A escola estava mordida como o vice-campeonato de 2003, segundo as especulações que ocorriam na época, a Mangueira seria campeã, mas quem teve motivos de alegria neste ano foi a Beija-flor de Nilópolis que não era campeã desde 1998. A Mangueira estava muito luxuosa e didática, era muito fácil acompanhar o enredo a partir de suas alegorias que causavam o delírio dos espectadores, como também de seu samba enredo que fez a toda Sapucaí cantar com muito amor.

Eu vou embarcar...
Na estação primeira,
Tesouro do samba, minha paixão,
Ê, trem bão!” 

O primeiro refrão já mostrava esta força: muito fácil de ser cantado, o samba logo pegou na “boca do povo”, contagiando cada integrante da Mangueira sem perder a melodia e seus compassos. Aliás, é esta facilidade que faz com que o samba seja lembrado para sempre. Os compositores Cadu, Gabriel, Almyr e Guilherme, mereceram e merecem todo carinho e aplausos, pois se trata de uma obra-prima: este samba da Mangueira continuava dando passos para a melhor fase de sambas da escola, com melodias mais elaboradas, mais vibrantes, que contagiem os mangueirenses, mas também o público que é apaixonado por samba enredo; foram eles quem escreveu o samba de 2002, “Brasil com z é pra cabra da peste, Brasil com s é Nação do Nordeste”, que rendeu o campeonato a nação mangueirense.

Mangueira,
Um brilho seduziu o meu olhar,
Me fez encontrar
A estrada do sonho,
“real” desejo de poder e ambição”

As trilhas, bordadas em ouro,
Levaram tesouros, a caminho do mar. (teu chão)
Teu chão é um retrato da história
E o tempo não pôde apagar
Hoje descubro a beleza
Que faz a riqueza voltar


Sensacional é a primeira estrofe: com muito requinte, os compositores trouxeram o enredo com leveza e encanto, poesia rica e clara evidenciando os aspectos que Max Lopes pensou ao retratar o enredo na avenida. Todo seu desfile foi de fácil acompanhamento, quem assistia direto da Sapucaí via a história do passado sendo retratada “ao vivo e a cores”, tão luxuosa quanto didática e ao som de um samba enredo empolgante, não teve quem não se impressionasse com a apresentação da Mangueira: a criança, aprendeu a história sem precisar está na escola; o adulto, relembrava os seus tempos de escolas; e o idoso, no baú de suas memórias, lembrava com carinho dos tempos passados. Todos divertindo-se ao som da bateria Surdo Um.

Por belos recantos andei,
Das suas águas provei,
De mansinho eu peço passagem,
A Mangueira vai seguir viagem

Um refrão do meio esplendoroso que exaltava os cantos e recantos de Minas Gerais levantava a emoção dos componentes. A melodia era realmente contagiante. Jamelão fazia sua parte arrebentando, dando um show de interpretação e suingue incomparáveis, voz jamais inconfundível que fazia toda diferença para a Mangueira.  

Que tempero bom...
Pode avisar que a comida está na mesa.
Se a pinga não "pegar"
Eu chego ao rio com certeza

Sem deixar de falar da culinária e da famosa cachaça mineira, o samba embalado de ternura e simplicidade, refletia as memória e estórias de Minas Gerais com muita veracidade. Sem falar na atuação brilhante dessa segunda parte da melodia que não caía em momento algum à mesma empolgação da primeira. Um samba realmente completo.

“Na arte, eu vi obras que o gênio esculpiu,
Igrejas, o barroco emoldura o Brasil,
Ó Minas, 

És um berço de cultura, és raiz,
Que brilha forte em verde e rosa,
Herança e patrimônio de um país”


Na parte final o samba encerra teu show: a melodia entra num compasso simples, gostoso de ouvir e, aos poucos, vai vibrando, evoluindo, até explodir no refrão principal, dando força para continuar na melodia forte da primeira parte do samba, isto é, o samba não comete se quer erros melódicos, não perde a linha. O samba enredo da Mangueira traduziu a sua viagem, todos nós embarcamos na Maria-fumaça mineira nas cores verde e rosa e conhecemos um pouco mais deste maravilhoso estado que é Minas Gerais.


E com este lindo samba que rendeu aos mangueirenses a terceira colocação em 2004, a Estação Primeira de Mangueira e seu samba gravado na memória do carnaval desta década ficou com o quarto lugar na nossa lista de Melhor Samba da década.











Nenhum comentário:

Postar um comentário