sábado, 11 de junho de 2011

“Pelas mãos do mensageiro do axé, a lição de Odu Obará: a Humildade”.



A Mancha Verde divulgou a sua sinopse para o carnaval de 2012 em seu site, e o Blog Samba que Incendeia disponibiliza pra você. Em primeira pessoa e escrita em forma de poesia, a Mancha conta a história “Pelas mãos do mensageiro do axé, a lição de Odu Obará: a Humildade”. Confiram:

SINOPSE

Laroiê Exu!
Para todo lado que olho encontro dor e destruição
Vejo águas invadindo a terra e tremores sacudindo o chão
matas são consumidas pelo fogo, enchentes castigam o povo.
Tenho muitas dúvidas e também ma certeza
Que a minha fé responderá o que acontece com a natureza
Pois sou Babalorixá, represento a humanidade
Busco no jogo de búzios, resposta para tanta calamidade
Para isto, invoco o Orixá mensageiro, único e verdadeiro
Que traduz as palavras do senhor do destino
E faço uma pergunta que a resposta nem imagino.
Diga-me com sua sabedoria e franqueza
O que fizemos para despertar a ira da natureza?
Num primeiro momento, minha indagação fez o mensageiro gargalhar
Mas, depois questionou sobre a soberba do homem e começou a relatar...
Queres saber o que está acontecendo?
São meus irmãos que se cansaram e agora estão se defendendo, Porém vejo que você tem um bom coração, não é um qualquer
És um mensageiro do axé, isto eu pude perceber, por este motivo, você merece aprender.
Me perguntou sobre o jogo de búzios e seu significado.
Falei que nossa religião não tem fim, estamos num contínuo aprendizado.
Deixei o mensageiro dos Orixás feliz com minha curiosidade
E para a minha felicidade, pediu que prestasse atenção
Pois me daria uma importante lição, que não desperdiçarei de jeito algum
Falará da criação do mundo pelo Deus Supremo Olorúm.
O criador viveu no Orun, o espaço infinito
Trabalhando na mais bela criação, no seu feito mais bonito
Um mundo maravilhoso, onde pudesse depositar tudo que tinha de precioso.
Habitará o universo com seu sopro sagrado,
E com seus filhos, que sempre estiveram ao seu lado.
Poderosos Orixás que tinham nas mãos, algo mais valioso do que qualquer riqueza
Pois dominavam todos os elementos da natureza.
Olorum criou o mundo para os homens, mesmo sabendo que cairiam em perdição
Pois são seres falhos, fadados a imperfeição,
Pensando nisso, criou o Orixá responsável pelo destino, que tem a sabedoria como ponto forte
Conhecedor da vida e da morte, sempre está por perto,
Quando o homem sente-se perdido, ensina o caminho certo.
Foi abençoado com a eternidade, para absorver sabedoria e ganhar maturidade
Com sua experiência, aprendeu que no mundo nada é novo, tudo é repetido,
Podemos viver hoje a mesma situação que outro já tenha vivido,
Sendo assim, nomeou 16 príncipes para ajudá-lo (foi uma sábia decisão)
Batizou-os de Odús e a cada um deles, deu uma missão.
Colecionem histórias de um determinado assunto e deste tema tenha domínio total
Contem para o máximo de pessoas que puderem, pois isto é fundamental.
Desta forma, os homens ficarão atentos e vigilantes,
Saberão como lidar com a situação que vocês já viveram antes.
Com o passar do tempo, os Odús viraram divindades
E continuaram ajudando o Senhor do Destino em suas atividades.
Hoje, para consultá-los, só existe um lugar único e verdadeiro
Pois eles são representados pelos 16 búzios do tabuleiro
Após ouvir esta bela história, pedi ao Orixá Mensageiro que me desse uma explicação
Entre os príncipes do destino e os problemas do mundo, onde está a relação?A sua resposta pesou na minha consciência,
Disse-me que não tinha terminado a história e pediu-me paciência.
Como os Orixás também são regidos pelos 16 Odús, jogou os búzios no tabuleiro
Que mostrou que quem me responderá, é Xangô, o Orixá Justiceiro,
Através de Odú Obará, o príncipe da riqueza e da prosperidade
Que também tem outra importante qualidade,
Preste atenção nesta lição de humildade...
Entre os 16 príncipes, Obará era o mais simples e vivia na pobreza
Diferente de seus irmão que moravam em castelos e esbanjaram riqueza.
Todos os anos, visitavam um Babalaô que tinha grande sabedoria
Ouviam dele conselhos sobre suas missões e ganhavam presentes de grande valia.
Porém, numa destas viagens, os 15 Odús tomaram uma triste decisão
Movidos pela vergonha, ignoraram Obará e partiram sem o irmão.
Logo na chegada, o sábio Babalaô, percebeu que algo estava diferente
Pela primeira vez, não respondeu aos seus questionamentos, pois uma lição tinha em mente
Ao invés de objetos valiosos, deu a eles abóboras como presente
Tal atitude deixou os 15 Odús indignados, foram embora sem demonstrar que estavam revoltados
Na jornada de volta perceberam que o caminho de volta era longo e cansativo
Lembraram que estavam próximos a casa do irmão e resolveram pedir comida e abrigo
e numa atitude digna de um coração bondoso
Obará recebeu os seus irmãos, feliz e orgulhoso
Antes de entrarem na casa, achando que não carregavam nenhuma fortuna
Deixaram as abóboras de fora (uma a uma)
Falou a sua esposa que preparasse para os visitantes, o melhor alimento
Ele questionou e disse: se fizer isso, faltará para o nosso sustento.
Para acabar com a discussão, pediu que não discordasse, pois era a sua decisão.
Depois de alimentados e descansados, os príncipes resolveram seguir em frente
Deixando para Odú Obará as 15 abóboras de presente.
Feliz pela visita e com a sensação de missão cumprida
Falou a sua esposa que estava com fome, que preparasse uma comida
Ela logo avisou, que abóbora foi a única coisa que restou
Sério, pediu a ela para colocar a água para aquecer
"se só temos abóboras, é isto que vamos comer"
Ao cortá-las, ele teve várias surpresas maravilhosas
As abóboras estavam recheadas de ouro e pedras preciosas
Obará, se tornou o mais rico entre os 16 Odús, virou exemplo de prosperidade
Tudo graças a sua humildade, diferente dos seus irmãos
Que tiveram tudo na mão e não deram valor
Receberam a lição de Babalaô, que usou de sabedoria e justiça
Quanta coisa os 15 príncipes perderam em nome da vergonha, da ganância e da cobiça.Esta história melhorou a minha compreensão,
E aproveitando o momento, o mensageiro me mostrou uma outra lição
Disse que Olorum presenteou a humanidade com a mais valiosa riqueza
Representada pelos Orixás, regentes das forças da natureza.
O homem ganhou tudo o que pudesse imaginar, mas, infelizmente não soube aproveitar.
As palavras do mensageiro foram duras, mas tive que concordar
Disse-me: Compreende agora porque o mundo está de pernas para o ar?
O homem ganhou presentes de todo o Orixá, da riqueza de Oxum a vida de Oxalá
Ganhou o corpo de Nanã, o vento de Iansã e o amor de Iemanjá
Teve nas mãos a riqueza de Oxum, a força de Exú e a perseverança de Obá
Não deu valor a justiça de Xangô, a esperança de Oxumaré e os segredos de Ewá
Desprezou os presentes dos Ibejis, de Ossaim, Oxóssi e Obaluaiê
O resultado de tanto desrespeito não foi difícil de prever
Afinal, tudo de ruim que o homem plantou, agora começou a colher
Ignorou as divindades, achou que o mundo foi criado para o seu bel prazer
Demonstrou a cobiça e arrogância, usou a natureza com ganância
Destruiu sem consequência, sem peso na consciência
Esta falta de respeito, deixou os Orixás revoltados
Todos os desastres, são um reflexo da forma que foram tratados
Neste momento, caí em prantos e pedi perdão,
Pelos erros do homem, culpa da sua imperfeição e aos Orixás por tanto desprezo e destruição
Por isso, imploro, Agoiê meu pai, me dê um caminho que eu possa percorrer
Mostre-me o meu castigo, eu aceito a punição
Coloque-me na trilha da retidão, pois quero aprender a lição!
O mensageiro faz uma pausa com quem ouve uma instrução
E diz quem responde o meu clamor, é o Olorum que percebeu que o amor tocou o meu coração
Que sou um homem de fé e tenho sede de perdão
Falou que para reverter este quadro, a humanidade precisa de atitude,
Pois esta é uma grande virtude
Disse que sou um mensageiro do axé e que por assumir toda culpa pelos erros da humanidade
Demonstrei compaixão e amor ao próximo, tive um ato de humildade
Por isso, não me aplicou um castigo, aceitou o meu perdão
E me deu uma única missão, de assumir  meu papel, pois do axé sou mensageiro,
Pediu que espalhasse a humildade pelo mundo inteiro,
Mostrasse a todos as perdas que a ganância e a cobiça podem causar
Esta conscientização, ao máximo de pessoas devo passar
Pois, quem sabe esta situação mude, a humanidade compreenda e tome outra atitude
E assim, nossa relação com os Orixás será de harmonia (tenho certeza)
E o mundo não sofrerá mais com a revolta da natureza
"Obrigado Pai, por mostrar o meu caminho e me dar compreensão"
Com o exemplo de Obará, a prendi a lição, sinto-me fortalecido para cumprir minha missão
Levarei aos quatro cantos a conscientização e a esperança, esta será minha trajetória
Carregarei este ensinamento no coração e na memória
Vou espalhar o que aprendi, para toda humanidade
Afinal, a prosperidade provém da humildade.
Aproveitando esta linda lição
A Mancha Verde, humildemente, aos Orixás pede perdão
E assume o seu papel diante do mundo inteiro
De trabalhar por dias melhores e do axé ser mensageiro
Mostrar a todos que a cobiça e a ganância só trazem destruição
Onde houver desrespeito com a natureza, levaremos a conscientização.
Lutaremos por um novo tempo de harmonia entre os Orixás e toda a humanidade
E assim como o Odu Obará, seguiremos nossa trajetória no caminho da "humildade".





sexta-feira, 10 de junho de 2011

“Ojuobá... No céu, os olhos do Rei... Na Terra, a Morada dos Milagres... No Coração um Obá muito amado”.


A Mocidade Alegre lançou a sinopse do enredo do carnaval de 2012: “Ojuobá... No céu, os olhos do Rei... Na Terra, a Morada dos Milagres... No Coração um Obá muito amado”. E o blog SQI disponibiliza a sinopse e o desenvolvimento do enredo através dos setores pra vocês. Confiram:

Sinopse do Enredo

Sob a luz do carnaval, o G.R.C.E.S. Mocidade Alegre pede agô às forças celestiais para mostrar, em forma de poesia, não um resgate, mas sim a plenitude de seu orgulho de ser descendente da cultura afro-brasileira.
Para tanto mostraremos em desfile, através da obra predileta de Jorge Amado  – Tenda dos Milagres – um viés da tradição dos Ojuobás, os representantes de Xangô que buscam a justiça na Terra.
Rufem os tambores... Que se cumpra a profecia de Ifá para o mundo novo: nascer, crescer e se misturar!
Axé, Morada do Samba!

No Céu, os Olhos do Rei...

- Kaô, meu pai...  Justiça, meu pai Xangô! Justiça aos teus filhos, tirados do seio da Mãe África e levados a força para esta terra distante!
Olhando para o céu, com a fé ardente de quem conhece o axé, assim clamou um Ojuobá – os
“Olhos do Rei”, evocando Xangô... Orixá da justiça... Senhor do fogo... Rei dos raios e dos trovões... Guardião da verdade!
- Venha, meu pai... Venha olhar por teus filhos, feitos escravos e sedentos da tua justiça e da tua verdade!
Num gesto de amor e proteção ao seu povo, Xangô apontou seu oxé em direção a uma terra virtuosa e selvagem, faceira e promissora, repousada do outro lado do mar de Yemanjá, a sua mãe. Xangô ordenou paz e liberdade ao  seu povo, o  povo negro...  Afinal, não poderia haver injustiça...  Não nesta terra de todos os deuses, de todos os santos, de todas as raças...
E assim se fez... Pelas armas de Xangô, finalmente o negro é livre... Liberdade ao povo do Rei de Oyó!
Bradou orgulhoso e triunfante o Ojuobá, com a força dos vitoriosos:
Kaô, Xangô...
Kaô, meu pai...
Kaô Kabecile!

Na Terra, a Morada dos Milagres...

Foram-se os grilhões... Ficou o preconceito! De que adianta a liberdade, sem a igualdade? Mais uma vez um Ojuobá rende seu clamor a Xangô, pedindo a igualdade de valor para um povo mestiço, que é resultado de mistura de raças e de fé, que encontrou no Brasil um braço forte e na Bahia o seu recanto. E, mais do que nunca, a gente mestiça se vê desejosa de livrar-se das amarras do preconceito.
E assim, Xangô age em defesa do seu povo ao guiar a mente de um escritor que fez de sua obra uma grande exaltação a mestiçagem, à tradição popular e a cultura negra. Seu nome: Jorge Amado!Em suas obras, Amado nos apresenta uma Bahia de pele morena. Uma gente que faz das ruas de São Salvador o palco onde desfilam mistérios que só se encontram naquele pedaço da África no Brasil. De onde vêm esses mistérios, ninguém sabe. Dos batuques do candomblé? Dos saveiros do cais? Das igrejas? Do mercado? O literato da alma brasileira recomenda que não se tente decifrar os segredos da cidade, pois seus mistérios envolvem por completo o corpo, a alma e o coração dos baianos. Amado nos apresenta uma baianidade singular e exótica, com docilidade, ritmo, sensualidade, feitiço, afetividade, capoeira e, claro, o candomblé.
Mas foi cumprindo os desígnios de Xangô, justiceiro do povo negro e mestiço, que Jorge Amado escreveu aquela que se tornaria sua obra predileta: Tenda dos Milagres!
Tenda dos Milagres é uma gráfica localizada no Pelourinho, lugar onde um certo negro, amigo de um Ojuobá, pintava milagres católicos por encomenda. Porém, o local era também palco de candomblé e da capoeira de Angola. O livro é um grito pela justiça social e pela igualdade contra o preconceito racial e religioso. Abriu caminhos e quebrou preconceitos. Tem por base o orgulho pela miscigenação, responsável pelo surgimento da verdadeira “cor do Brasil”, nos deixando uma importante mensagem: Há de nascer... Há de crescer... E há de se misturar!
A obra também pode ser considerada a perfeita tradução da alma do povo brasileiro através da Bahia de Jorge Amado, com sua gente e seus deuses quase humanos. Uma Bahia acima de tudo sincrética, povoada por negros, mulatos e brancos que se ajoelham nas igrejas e dançam nos terreiros, com a mesma devoção e total sinceridade.
O sincretismo na Bahia não é questão de raça ou de fé, mas sim um traço cultural, como podemos observar na associação entre orixás do candomblé e santos católicos. Mas é nas ladeiras de São Salvador, onde comidas típicas de origem africana preparadas pelas mães-de-santo, respeitadas tias quituteiras, são servidas no dia da lavagem da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, das homenagens a Iemanjá e a Nossa Senhora dos Navegantes, entre outras manifestações culturais e religiosas, como o Afoxé e a Corte do Congo, que consagram a cultura negra e o encontro do sagrado e do profano na Bahia de Todos os Santos.
Ê Bahia faceira... Pedaço da África no Brasil... Seu axé ganhou o mundo... Pelo talento de Jorge Amado a justiça de Xangô está feita!

No Coração, Um Obá Muito Amado!

Jorge Amado fez o mundo olhar o Brasil com mais admiração e respeito, ao retratar em suas obras um povo mestiço, alegre, festeiro e sensual. Foi quem melhor contou as histórias do povo negro da Bahia através de seus inesquecíveis personagens libertários e místicos, que transitaram com liberdade entre mundo o real e o imaginário. A partir dele não podemos mais pensar em nosso país sem as cores e o sensualismo, a mestiçagem e o sincretismo, a fibra e a alegria que inspiraram e deram identidade às suas obras imortais.
E como consagração a quem tanto fez e amou a “Raça Brasileira”, Amado recebeu o título de Obá de Xangô pelas mãos de Mãe Senhora no Ilé Axé Opô Afonjá – terreiro dedicado ao orixá da justiça, da verdade, dos raios e dos trovões –, ocupando uma das doze cadeiras do conselho do Rei de Oyó, uma das mais altas condecorações do candomblé, Rufem os tambores da Bahia em consagração ao "Obá muito Amado"!
E assim, sempre que houver injustiça, haverá também um Ojuobá  – Os “Olhos do Rei” – a invocar Xangô que, pela força das suas armas ou pela inspiração do seu axé, fará justiça e cobrirá de verdade o seu povo... Povo que veio da África e contribuiu definitivamente para a formação da identidade da alma brasileira... Um povo cada vez mais destinado a “nascer, crescer... se misturar”, e ser muito feliz!Obá Amado, a Morada do Samba, em nome de toda a Nação Brasileira, agradece a você por sua obra, por defender essa raça da qual nos orgulhamos de fazer parte e continuaremos defendendo, com as armas de Xangô!
Kaô, meu pai...
Kaô Kabecile!
Axé!

Aos Compositores:

Que Xangô derrame seu axé sobre as suas mentes e inspire as suas criações, nos brindando com obras que honrem e orgulhem a cultura africana no Brasil... Muita luz e paz a todos... Boa sorte!!!

Sidnei França e Departamento Cultural
G.R.C.E.S. Mocidade Alegre - A "Morada do Samba" - 31 de Maio de 2011


Ficha Técnica – Enredo 2012

Presidente
Solange Cruz Bichara Rezende

Supervisão Geral
Direção de Carnaval
(Solange Cruz Bichara Rezende,  Marcos Rezende, Érica Ferreira, Ricardo Sonzin, Sidnei França,
Edson Oliveira, Vanderley Silva, Eduardo Reck, Ariane Camilla e Fábio Carromeu)

Autoria do Enredo
Sidnei França

Pesquisa e Desenvolvimento
Departamento Cultural
(Sidnei França, Ricardo Sonzin, Fábio Cavicchio Parra, Vinícius Martins, Sheila Falcão e Geórgia do Prado)

Logomarca
Everton Morgado Xavier

Criação e Execução
Carnavalescos
(Sidnei França e Márcio Gonçalves)

Desenvolvimento do Enredo
Setor 1
Ojuobá... Os Olhos do Rei – Evocação a Xangô!
Setor 2
Dos Braços de Yemanjá às Ladeiras da Lendária Bahia... O Negro é Livre!
Setor 3
Na “Tenda dos Milagres” um Grito de Justiça e Igualdade
Setor 4
O Afoxé e a Corte do Congo – O Encontro do Sagrado e do Profano na Bahia de Todos os Santos
Setor 5
Obá de Xangô Pelas Mãos de Mãe Senhora... Um Obá Muito Amado!



quinta-feira, 9 de junho de 2011

"Jorge, Amado Jorge"

Foto: Divulgação



A Imperatriz Leopoldinense entregou nesta terça feira a sinopse do enredo para o carnaval de 2012. A escola realizou uma grande festa para receber o público com a realização de dramatizações da obra de Jorge Amado. A festa ainda contou com a presença dos filhos de Jorge Amado que prestigiaram a homenagem. Confiram o texto:

"Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e a da liberdade, bati-me contra os preconceitos, ousei as práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos, fui o oposto, o vice-versa, o não, me consumi, chorei e ri, sofri, amei, me diverti."
Jorge Amado (Navegação de Cabotagem, 1992)

Ave Bahia! Bahia sagrada!
1912. A lua prateada banha o céu de axé...
Eis a coroa de Oxalá, o Senhor da Bahia!
Venha nos proteger, meu Senhor do Bonfim!
Vem do mar a esperança... Litoral de magia... Iemanjá! Oferendas à rainha do mar!
"Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá"
Velas bailam ao som do vento baiano. Veleiros, canoinhas e jangadas, deixem-se levar.
"...cerca o peixe, bate o remo, puxa corda, colhe a rede
Canoeiro puxa rede do mar..."
Jorge, Amado Jorge... Eis aqui sua história, vida e memória!
Vai, criança baiana; descubra os segredos dessa terra.
Jorge conheceu fazendas, ruas, vielas,
Becos e guetos, tipos e jeitos.
- Quem quer flores? Frutas? - grita o vendedor.
- Olha o acarajé! - oferece a velha baiana.
Águas de Oxalá! Venha ver a Lavagem do Bonfim!
As letras lhe chegam num sopro. Um vento de liberdade em defesa do povo.
Ah... O Rio de Janeiro... Nova casa do rapaz escritor.
Graduado na vida e na universidade.
Na política, com o "coração vermelho", se engajou.
É a vida na capital. Amigos, papos e mulheres...
Ah... As mulheres... Vida perfumada e sensual...
Bares e cabarés... Eis a malandragem, o primeiro livro: o "país do carnaval".
Primeiros romances. Romances da guerreira e apimentada Bahia, sua eterna paixão.
O ciclo do cacau, grande inspiração.
Viver nas areias da história e sonhar em ser capitão.
Um ideal. O valor do homem. O reconhecimento da valente alma do povo.
Vivência e personagens se confundem. Verdadeiros baianos traduzidos nos folhetins.
Onde está a liberdade?
Essa é a "Bahia de todos os santos", de toda gente! Gente brasileira.
Doce amor, doce flor. Amiga, companheira, parceira de letras e caminhadas
Que o segue fielmente pelo "sem fim" do mundo.
Retornar a sua origem... Os passos rumo à alvorada da literatura.
Rumo à consagração: premiado e Amado. De farda e fardão.
Busca no tempero de Gabriela os sabores da vida. O aroma da crônica do interior.
A brisa que balança as madeixas da morena embala palavras ao encontro de Dona Flor.
Tieta do "chão dos prazeres", do agreste. Tereza Batista, "fonte de mel".
Mulheres e "milagres" do Nordeste.
Jogue a rede, pescador! Traga do mar de memórias as palavras inspiradoras.
Hoje o capitão é Jorge Amado. Capitão de sua navegação. "Navegação de Cabotagem".
Misticismo e miscigenação, a alma desse chão.
Que Exu nos permita caminhar! "Se for de paz, pode entrar."
Okê Arô Oxossi! Salve todos os Orixás! Joga búzios, canta a reza!
Kaô kabesilê! Kaô meu pai Xangô! Jorge é obá no Ilê Axé Opô Afonjá!
Ora iê iê Oxum! Mãe de Mãe Menininha do Gantois, amiga na fé, axé!
É festa na ladeira do Pelô! É festa na Bahia! Fervilha a mestiça terra de Jorge!
A Magia dos Filhos de Ghandi... É energia do sangue nordestino...
Tocam atabaques e alabês. O Pelourinho estremece! Vem descendo o Ilê Aiyê!
É o tambor! É a força do ritmo! É o som do Olodum!
Venham, amigos queridos! Amada família do escritor, venha conosco cantar!
100 anos do nascimento de Jorge Amado... Comemora a Imperatriz Leopoldinense!
De alma e coração, vamos todos brindar ao mestre das letras!
Sentadas sob a sombra da copa de uma grande árvore, suas palavras vão para sempre descansar...
Jorge, Amado Jorge...
Muito obrigado!
Hoje, a ti canto e me declaro:
sou mais um gresilense apaixonado!

Presidente: Luiz Pacheco Drumond
Carnavalesco: Max Lopes
Direção de Carnaval: Wagner Araújo
Texto e desenvolvimento: Max Lopes e Gabriel Haddad



terça-feira, 7 de junho de 2011

“MÃE, ventre da vida e essência do Amor”.

Escola de Samba Dragões da Real.jpg


A campeã do acesso de 2011, Dragões da Real, lançou o enredo para o carnaval de 2012 numa feijoada no dia 04 de junho. A festa começou ás 14h com entrada livre e apresentação da escolinha de bateria com mestre Carlinhos. A sinopse ficou disponível para os compositores e o nosso blog SQI, mostra para você. Confira:

A natureza é a Mãe de todos, e a todos trata com cuidado, pois como toda Mãe que ama, quer seus filhos abençoados.
Mãe Natureza, tem o segredo da vida dentro de seu interior, de reproduzirem seu ventre outra luz com seu devido valor. Somos todos filhos desta grandiosa Mãe, que tudo nos dá, pois este é o ciclo da vida.
É maravilhoso observar dentro desse sistema outras Mães com suas formas peculiares de criação e defesa: Mãe Primavera em flor prestes a germinar, nos animais cada um em seu habitat para a espécie preservar; Cavalo Marinho no qual o pai faz as vezes da Mãe; Canguru com seus filhos no bolso; Tarântula que leva seus ovos nas costas; e o Elefante, a maior gestação do planeta.
Para as Mães Natureza a batalha, a defesa, são sinais de decisão e sobrevivência.
Mãe personalidade, Mãe beleza que nunca perde sua vaidade, sempre está bonita, até  nas tarefas do lar nunca deixa de se cuidar.
Mãe lutadora e companheira que planta o trigo e prepara o pão, que faz o pano que agasalha, trançando o fio do algodão.
Mãe educadora que ensina, Mãe da comunicação.
Mãe do trabalho, que não mede esforços para nos amparar, pedra por pedra a alta muralha, ergue-se o lar aos ermos do chão.
Mãe da saúde, remédio caseiro e doses de carinho para seu filho curar.
Nunca fogem da luta, pois não tem nada que uma Mãe não possa enfrentar, mesmo a vida sendo uma áspera batalha, em que a arma rude é a rude mão.
Mães da escola de samba que sacodem o terreirão.
Mães de todos nós, Mãe das Mães
Mãe dos filhos, Mãe-pai, duas vezes Mãe
Marcadas pela fé, são as Mães da Sé, nome popular da Associação Brasileira de Busca a Crianças Desaparecidas (ABCD). O nome originou-se no fato de que uma vez por semana Mães de crianças desaparecidas reúnem-se em frente à Catedral da Sé, no centro de São Paulo com o mesmo objetivo: encontrar seus filhos queridos desaparecidos.
Mães Pretas, escravas santas que por Deus são abençoadas. Já deram vidas a muitas crianças, até mesmo a crianças enjeitadas, filhos de brancos – seus patrões – que por elas foram alimentadas. Mães de Fé, marcadas pela religiosidade usam seu lado de intuição e conhecimento. As Mães de Santo, Iyalorixá, sem querer ouvir, sem querer olhar, cuidam de seus filhos através de seus orixás. Mães mais do que Especiais perseverantes e persistentes de um amor incondicional. E salve as Mães de Criação, verdadeiras Mães de Adoção. Em casa à tarde fazem sua oração, para agradecer a Deus o trabalho do dia, agradecem o fato de serem Mães, com felicidade e alegria, rezando assim uma “Ave Maria”.
Viva a Mãe do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, agradecemos-lhe por nossa prece atendida.
No humor, as Mães também estão lá.
No ring e na arena, ao ver seu filho apanhar, quer bater em quem se aproximar.
Há as que digam: “ depois que filho pari nunca mais minha barriga enchi! “
Muitos falam mal ou até bem, porém cada um sabe a sogra que tem.
Mãe de Juiz, ofendida a cada partida e ainda diz que seu filho é amado e querido.
Mãe polvo, é preciso ter muitos braços para cuidar e proteger seus filhos!
Mãe do silêncio, Mãe dos doentes e dos sãos
Mãe que abraça e afaga
As Mães queridíssimas que já partiram, as Mães em oração. Com certeza mãe é a forma que deus encontrou para poder representar o amor.
A Dragões da Real, feliz nesta homenagem entende que, mais do que ninguém você, Mãe, é a pura realização, dando mais emoção aos sonhos do meu Dragão.
E salve todas as Mães, a todas mesmo, sem exceção.

Carnavalesco:
Eduardo Caetano e Comissão de Carnaval.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Chica convida... No palácio da Nenê a festa é pra você".



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A Nenê de Vila Matilde lançou o enredo para o carnaval de 2012 em 28 de Maio numa festa emocionante e grandiosa. No mesmo evento, a escola anunciou também o novo carnavalesco, Fernando Dias que já teve passagens pela Mangueira, Viradouro, Mocidade Alegre, entre outras, e em 2009 realizou o carnaval da Mancha Verde, além de também anunciar o seu novo intérprete, Celson Mody, o Celsinho que neste ano defendeu o microfone oficial da Camisa Verde e Branco. As expectativas para o próximo carnaval é grande, mas o carnavalesco sabe da responsabilidade para com a escola: “A Nenê pra mim, já era uma paixão antiga. Sei que tenho uma grande responsabilidade com essa comunidade, mas vou fazer o meu melhor, podem ter certeza”, declara o carnavalesco ao site oficial da Nenê. Agora é só viajar na história com a sinopse do enredo, confiram.




Sou forra, mulher, rainha e mineira. Vivi no Arraial do Tijuco, cidade dos diamantes das Minas Gerais, lá pelos idos do século 18. Fui amada, respeitada, temida, odiada... Meu nome é Francisca da Silva de Oliveira, simplesmente Chica da Silva, negra na cor e mulher de muito valor.
Hoje, em minha paz celestial, decidi dar uma grande festa para ilustres convidados, em homenagem a vitória da liberdade, a literatura, a poesia, a música, ao teatro, ao samba... A cultura dos negros brasileiros.
Nesta festa sem recato, no lugar de navios negreiros teremos carruagens e liteiras douradas, no lugar da dor e da tristeza teremos alegria, e no lugar de grilhões teremos tambores. Que soem os tambores...
Personificada em minha vida e história, da casa dos sambistas faço o meu castelo. Celebro a vida e a Águia da Azul e Branca põe-te a voar, mostrando a glória desse povo que vive a sambar. Por que hoje "No Palácio da Nenê a Festa é para Você. Chica Convida!"
Peço licença aos donos dessa casa. Com o meu orgulho renovado recebo os meus filhos. Todos educados longe do seio materno, meus "mestres de cerimônia" que trazem no olhar o afeto, a alegria do nosso amor eterno.
Em respeito a Vossa História, meus bambas de fato, que girem as suas "senhoras", suas Tias Baianas, sigam o meu cortejo em devoção a Nossa Senhora do Rosário à tradição da coroa. Bailam os negros no ritmo do Congado. Onde o Rei do Congo e a Rainha Ginga são coroados... Em tempo de batuque, é dança pra todo lado, olubajé é o seu legado.
Mucamas, criados, atenção! São muitos os afazeres... Movidos por um sentimento de conquista, glória e paixão, cuidem com apreço dos vestidos, das perucas, das jóias à minha adoração. Como o habitual, tragam flores e águas de cheiro. Enfeitem, de forma sem igual, as paredes do palácio com tecidos coloridos, com palhas secas e fios de sisal. Organizem as louças de porcelanas e preparem um maravilhoso banquete. Com um toque africano e bem temperado, caprichem nos quitutes doces e salgados. Músicos toquem, toquem, toquem... Como a suave brisa que embala a sinfonia dos ventos, apresento-lhes o meu quinteto. Sob as obras musicais, sonatas, transcritas para o meu folheto, trago com requinte e leveza a dança do minueto. Rufam os tambores...
Alegria, alegria! Não é conto, nem magia é Rei Zumbi que acabou de chegar. Cada qual com a sua verdade, Zumbi e mil Palmares contra a atrocidade em nome da Liberdade. A virtude de tornar real o sonho da alforria para muitos negros escravos é a sua lei. Entrelaçado em ouro, das minas, eu, o desbravei... Nem tão pouco sonhei. Aplausos, para o nosso glorioso Chico Rei.
Pressinto! E um repentino silêncio se faz presente. Um trotar sublime e envolvente ganha espaço reluzindo-se como uma estrela incandescente. É Dom Obá e Agotime, que a bordo de uma carruagem resplandecente, chegam para desfrutar da alegria de toda essa gente.
Tudo acontece ao mesmo tempo. Ganha movimento e os negros escravos vão se livrando dos seus tormentos. Brilha a este espírito de consagramento, a altivez do que é incomum, a atitude à eficácia, de uma "santa de olhos azuis". Chega, livrando-se da mordaça, entre a luta e a sua audácia, a negra, que história batizou de Escrava Anastácia.
"Não se ri do destino". A sua arte floresceu dos sonhos de quando ainda era um menino... Esculpe e dimensiona o seu cenário projetando ao mundo a tradução dos seus santinhos. Isso tudo me fascina, assim, como contemplo a cultura em meu caminho, vou saudando a criatividade de Antonio Francisco Lisboa, o nosso querido Aleijadinho. Iluminem este palácio. As palavras vão dando conta do meu prefácio. A persuasão ganha vida, meio a discursos, projetos e publicações, uma revolução. Rumam à vitória da tão sonhada Abolição.
Para minha grande festa, de forma exuberante e curiosa, tem gente que vem de barco, o meu maior fascínio. Recebam o Almirante Negro, o engenheiro André Rebouças e o político José do Patrocínio. Assim como sempre quis a essa altura, em noite de festa e de gente feliz, personificado em verso e prosa, seu nome é Machado de Assis. Como em Memórias Póstumas de seu personagem define sua diretriz: a cada poema, crônica, frase um dissabor. Ora extraídos da dor, ora preenchidos com a docilidade deste grande escritor.Entre linhas revelo o que sinto. O contemporâneo, ao meu olhar, deixou de ser um mistério sucinto.
Sob a magnificência de um poeta, dedicado às letras, descobri a Pátria Mãe gentil: Cruz e Souza o maior autor simbolista do Brasil. Vamos celebrar a glória de um povo que sabe rezar. Tantas origens de tal profusão. Tem batuque? É gira de candomblé. Lá vem Tia Ciata, Mãe Menininha do Gantois ao culto sagrado, que faz da reza um canto, a cada mãe de santo, um axé. Mas quem pode com mandinga não carrega patuá. Peço licença ao Ketu, ao Jejê e ao Nagô, para louvar o Orixá da justiça, nosso Rei Xangô. O conto que a gente canta é a história que o povo faz.
É o samba que os males espanta dos sambistas imortais. Certo do me conduz, vamos cantar sambar ir além do que propus. Unindo a moderna cultura negra brasileira à Mãe África com os belos sambas de Clementina de Jesus.
Nesse reduto de bamba, onde tudo é versado, vou deixando o meu recado. Entre o erudito e o popular ouço Clara cantar, vejo Chiquinha Gonzaga, ao som do piano, abrir alas pro meu povo passar. E sob a regência do maestro renomado, que de Carlos Gomes fora batizado, contemplo um "Guarani" a descansar.
Não há aquele que não preste atenção, na melodia de uma simples canção e não leve consigo o acorde "Carinhoso" de Pixinguinha em seu coração. Um marco ou um dilema? É Grande Otelo interpretando nas telas do cinema. Chega sem choro e sem dor, esbanjando alegria, com suas diversas formas de fazer humor.
Um importante momento! Inicia o primeiro ato da peça "Aruanda" dirigida por Abdias do Nascimento. Um súbito encantamento toma conta de todos. E não é pra menos: elevar a autoestima do negro brasileiro era o seu principal argumento. A grande festa é a esperança, faz aliança é união. Com seu estandarte exalta a arte e acende as luzes da imaginação. No passo desse compasso o samba se une numa apoteótica celebração: Seu Nenê, Seu Inocêncio Mulata, Seu Carlão, Seu Pé Rachado e Dona Madrinha Eunice a inspiração.
E desse encontro mágico e universal chamado carnaval, bate forte o coração. A Nenê de Vila Matilde confraterniza, entende as razões, que no mundo do samba vale-se muito quando se respeita os pavilhões. Recebe Ismael Silva da Estácio de Sá, Cartola da Mangueira, Dona Ivone Lara do Império Serrano, Seu Calça Larga do Salgueiro, Paulo da Portela e estende nesta Avenida a sua maior paixão... De braços dados desfila o enredo do seu samba, ao lado desses eternos guardiões. Celebrem, cantem forte, ninguém há de duvidar, que a Nenê é Chica da Silva e Chica da Silva é Nenê! Porque nascemos pra brilhar.

Carnavalesco - Fernando Dias
Pesquisa e texto - Marcos Roza