segunda-feira, 27 de junho de 2011

É garra, É Amor... Respeito!



A Mancha Verde pintou na história do Brasil sua história: com o enredo “Pernambuco: uma nação cultural!” a escola realizou um desfile com a valentia nordestina, dando aos seus componentes muito gás para poder continuar rumo à conquista de suas glórias. A escola que vinha em uma crescente ascensão teve uma trégua: neste ano, a Mancha não foi bem vista pelos jurados, ficando apenas em décimo lugar; prejudicada pelo quesito alegoria e evolução, além de conflitos de natureza técnica entre os setores da agremiação; seu enredo obteve quatro notas 10 e seu samba enredo obteve as seguintes notas 10, 10, 9,5 e 9,75. Logo era possível notar divergências nas justificativas dos jurados. Veio para mostrar que não é somente escola de torcida organizada, mas que sabe fazer carnaval, melhor dizendo, carnaval e samba enredo. Para se ter um bom samba enredo é preciso que se tenha um bom enredo, escrito de forma clara, rico, repleto de criatividade e possibilidades; para completar a receita, basta uma dose certa de inspiração dos compositores que vai sair “quentinho do forno”, uma verdadeira obra prima.

É garra, é amor, respeito
É força, é vida, é emoção
É com orgulho que sou
E levo por onde for
A Mancha Verde no meu coração


O enredo da Mancha Verde em 2009 não era sobre receitas ou comidas, mas de um estado, Pernambuco e sua cultura. Aliar a ascensão histórica de Pernambuco com a da Mancha proporcionou uma combinação perfeita: a bravura nordestina com a garra da escola foi o tempero essencial para criar o samba mais forte daquele ano. Seu refrão principal é digno de força e, ao ser cantado, exigia que seus componentes o entoasse com muita energia, emitindo os primeiros versos de um samba emocionante.
“A coragem raiou no horizonte
Vem de lá na embarcação
                             
O mar se arrebenta em seu nome
Batizando a sua formação
                   
A primeira estrofe é como ouvir a história em forma de canto: a letra é didática, sendo possível aprender parte da História de Pernambuco a partir de sua poesia. Sem exageros, enalteceu a formação da cultura do estado com muita clareza e riqueza poética, sem deixar espaços ou, muito menos, usar frases de efeito. Um samba criativo. Com a melodia vibrante que percorria por todo o andamento do samba, a harmonia não ficou comprometida e, somada a bateria de Mestre Caju e Mestre Moleza, o show foi singular. Uma cadência perfeita. A harmonia e a sintonia entre a poesia e a melodia meramente ágil, não atrapalhou o canto da comunidade, pelo contrário, facilitou o coro, prevalecendo a harmonia do canto.

“O cultivo desperta a cobiça
Entre Holanda e Portugal
Maurício de Nassau, moderna capital
A história se transforma em pintura
Miscigenações, manifestações
Do folclore, da fé e da cultura"

Sem perder o gingado, o samba chega a seu refrão do meio sem perder o compasso. Forte e imponente, trata-se de um refrão com um alto grau de dificuldade, no qual somou pontos a favor da Mancha. Um balanço singular. Um equilíbrio perfeito. O refrão preparava um grandioso compasso, compensando a estrofe seguinte, prevalecendo à sintonia no decorrer do samba. Um refrão balizador.

Tem frevo de bamba, no samba
Vem amor, forrozear
Sou Pernambuco, em festa de São João
Eu sou a arte e vou tocar seu coração"

Com os versos carregados de balanço e poesia, a segunda estrofe continua com a mistura entre o leve e o forte. A melodia dá uma leve trégua nos dois primeiros versos, entrando em euforia e, nos versos seguintes, acumula novamente sua força para desembocar nos versos que estremeciam o Anhembí. “Meu Verde e Branco a brilhar/ Antes da quarta-feira eu vou festejar/ Com devoção, meu pavilhão em primeiro lugar”. Uma melodia singular, feita para a Mancha Verde cantar. Uma letra rica, direta, didática, que não perdeu em momento algum a sua riqueza poética.

"Hoje eu vou pintar
E vou bordar minha raiz
Erudito popular
Sou poeta arretado desse meu país
Artistas de consagração
Pessoas de grande expressão
Assim meu povo se destacou"

A Mancha não desfilou no desfiles das campeãs, mas o fato de ter um dos melhores sambas enredo da década, já é um grande estímulo para continuar brigando pelo título ainda não conquistado, mas que está perto de acontecer. Basta continuar na ascensão que vinha e vem se consagrando nestes dois últimos anos (2010/2011), como também os jurados levarem mais a sério a escola de samba de procedência futebolística, esquecer que é uma torcida e julgar o carnaval que uma escola de samba proveniente de uma torcida organizada se propõe a fazer, pois estas também merecem respeito.

E com este "verdadeiro orgulho de um povo", a Mancha Verde e seu samba de 2009 composto por Armênio Poesia, Chanel, Fred, Roberto Spezani e Doralice ocupam o 9º lugar na nossa lista de Melhor Sama Enredo da Década de São Paulo 2000/2010.







 
 


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